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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Natal em tempo de pandemia

Charneca em flor, 14.12.21

 

21273791_ERk3P.jpegA noite começava a cair e as luzes coloridas alegravam as ruas. As poucas pessoas que se viam seguiam atarefadas procurando chegar a casa o mais depressa possível para se reunirem com as suas famílias na noite mais mágica do ano, a Véspera de Natal. Quem andava por ali seguia tão absorto com os seus problemas que nem reparava num homem jovem que percorria as ruas desesperadamente.

José procurava uma farmácia aberta mas, todas as que encontrava, já tinham encerrado para que os seus funcionários celebrassem o Natal. Aquele dia preparava-se para ser um dos dias mais importantes para ele e para a sua família. No entanto, o eminente acontecimento estava a ser ensombrado pelas regras que a terrível pandemia tinha imposto no país.

Já tinham passado quase dois anos desde que se descobrira uma doença de tal modo contagiosa que se tinha espalhado por todos os países do Mundo provocando uma pandemia. Cada país tinha lutado o melhor que podia contra as consequências desta ocorrência mas tinha sido impossível impedir que aquela doença afectasse os cuidados de saúde, a economia, os negócios, a vida em comunidade, a maneira como as pessoas se relacionavam umas com as outras ou usufruíam dos direitos outrora conquistados.

O governo do país de José tinha decretado que, para aceder aos espaços públicos, todos os cidadãos teriam que apresentar um teste negativo para a doença. Só que o homem não conseguia encontrar nenhum sítio disposto a realizar o dito procedimento o que o estava a afastar do lugar onde ele desejava estar, acima de tudo e de todos, ao lado da mulher da sua vida. Eles estavam prestes a conhecer a felicidade mais plena mas nunca tinham imaginado que não estivessem juntos naquele momento.

Quando estava prestes a desistir, viu uma luz a piscar. Por momentos, pensou que era a estrela que os Reis Magos viram, a Oriente, no primeiro Natal mas tratava-se de uma cruz verde que assinalava a farmácia de serviço. Apesar de iluminado, não se via vivalma no interior do espaço. De repente, a porta automática abriu-se assustando o pobre José. Com a esperança de encontrar ali a solução para o seu problema, entrou. Enquanto explicava a situação à simpática farmacêutica que lá se encontrava, viu surgir um ser etéreo vestido de bata azul, máscara e viseira. Para ele, aquela pessoa transformou-se no seu anjo da guarda porque lhe fez o tão aguardado teste, felizmente, negativo.

Assim que pôde saiu a correr a tal velocidade que parecia voar em direcção ao carro enquanto telefonava à sua amada:

- Maria, meu amor, consegui. Vou a caminho do hospital. Diz ao nosso filho que espere mais um pouco para nascer.

Algumas horas depois, Maria e José recebiam, nos braços, o filho tão desejado. Porque não há tempestade ou pandemia que seja capaz de afastar aqueles que se amam.

Feliz Natal 

 

Este conto de Natal foi escrito para responder ao desafio lançado pela querida imsilva do blogue pessoas e coisas da vida.

Serve também de homenagem todos os profissionais de saúde, onde me incluo, que continuam, dia após dia, a desempenhar o seu papel no combate à pandemia. Que tenham todos um Santo e Feliz Natal.

P.S. - Foto captada no Mercadito de Trento, Itália, no Natal de 2016.

 

O presente difícil de encontrar

Os Desafios da Abelha | Conto de Natal de 2021

Charneca em flor, 30.11.21

Nos dias anteriores, a cidade tinha sido afectada por um enorme nevão. Na televisão, as autoridades de segurança mostravam-se muito preocupadas com a segurança rodoviária. Só que a véspera de Natal chegara e as pessoas queriam fazer as compras de última hora, como era costume. Nada as fazia ficar em casa, nem sequer a neve.

Os limpa-neves trabalhavam sem descanso mas, assim que acabavam de limpar uma estrada, ela voltava a ficar coberta de neve. Mesmo assim, os parques de estacionamento da superfícies comerciais apresentavam-se quase cheios. Apesar das péssimas condições atmosféricas, as pessoas arriscavam fazendo deslocações, nem que tivessem que estar horas numa fila de trânsito. Tudo valia a pena para salvar o Natal.

Contra todas as adversidades, havia alguém que se deslocava, freneticamente, de centro comercial em centro comercial, de loja em loja. Os engarrafamentos não o preocupavam. Aquele senhor, bonacheirão, vestido de vermelho, deslocava-se num trenó. Mas não era um trenó qualquer, era puxado pela experiente Rena Rudolfo. Não havia engarrafamento, cruzamento, semáforo ou rotunda que a parasse porque Rudolfo se deslocava pelo céu, não voando que isso deixava para os pássaros, mas pulando de nuvem em nuvem. Na noite mais mágica do ano, era vê-los, Pai Natal e Rudolfo, saltitando pelos céus.

Só que, naquele ano, o Pai Natal começou a ser avistado muito antes de a noite cair. Um menino tinha-lhe escrito uma carta muito comovente mas tinha-o colocado perante uma situação complicada. O pedido não se conseguia satisfazer na fábrica de brinquedos do Pólo Norte. Sendo assim, o Pai Natal andava, tal e qual o mais comum dos mortais, a tentar comprar aquilo que o menino, João de seu nome, tanto ansiava. Na sua busca infrutífera foi estacionando em vários locais surpreendendo os incautos transeuntes embora a maioria pensasse que se tratava de uma mera estratégia de marketing.

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O céu estava a escurecer porque o dia ia chegando ao fim e o Pai Natal não resolvia a sua questão. Até que teve a ideia de ir consultar um colega que também costumava trabalhar nesta época do ano, o Menino Jesus. Com a ajuda da sua fiel Rena Rudolfo, foi até ao Paraíso expôr o seu problema. Depois de ser muito bem recebido, contou a situação o mais depressa que conseguiu. O Menino Jesus riu-se com gosto dizendo:

- Querido amigo, como é que é possível que um homem com a tua experiência esteja a fazer um problema tão grande dessa situação?! Procura bem dentro de ti, no coração, que vais encontrar a solução. Até te vou dar uma ajuda. – E deu-lhe uma caixa vazia enquanto se despedia uma vez que não havia tempo a perder. Era chegada a hora de levar os presentes a todas as casas do mundo.

O Pai Natal compreendeu tudo, finalmente. E, de nuvem em nuvem, lá foi saltitando e deixando presentes em todos os lares, dos mais humildes aos mais ricos.

Na manhã de Natal, a neve continuava a cair lá fora. Na grande casa que se erguia no cimo da colina, inúmeras crianças saíam dos seus quartos e desciam as escadas, com grande algazarra, até à árvore de Natal da sala comum. No orfanato do Menino Jesus, nenhuma criança ficava sem presente mas os olhos que mais brilhavam eram os do João porque a sua prenda era a mais reluzente. No momento em que se preparava para abri-la, soou a campainha.

- Vem, João, os teus pais chegaram para te levar. Vais passar o dia de Natal com a tua nova família.

Da caixa entreaberta espalhou-se no ar o doce aroma do amor. O desejo do pequeno João tinha sido realizado. O presente que pediu ao Pai Natal foi apenas este, Amor.

 

Este pequeno conto, inspirado na imagem que o ilustra, foi escrito no âmbito do desafio lançado pela Ana de Deus, inspirado na iniciativa anual da Mãe Natal dos Blogs do Sapo, imsilva.

Reunião familiar

Charneca em flor, 08.12.20

Respondendo ao desafio da Isabel, aqui fica "O meu conto de Natal":

《A pequena Madalena escreveu, com afinco, uma carta ao Pai Natal:

“Querido Pai Natal,

Não preciso de muitos presentes neste Natal. Já tenho brinquedos suficientes. Aliás até já fui com a mamã dar brinquedos aos meninos pobres. O que desejava mesmo era que o meu Natal fosse um Natal alegre e feliz. Não queria que os meus pais discutissem por causa do sítio onde eu vou passar a Consoada ou o Dia de Natal. No ano passado, o primeiro Natal desde que se separaram, foi uma grande confusão. Os adultos fizeram-me andar a correr de um lado para o outro.
Eu sei que os meus pais nunca mais vão viver juntos e que agora, em vez de sermos uma só família, haverá sempre a família do pai e a família da mãe. Mas eu sou só uma e eles não me podem cortar ao meio.
Eu ficava tão feliz se, ao menos no Natal, as 2 famílias se pudessem juntar outra vez. Esse é o presente que eu mais desejo.
Despeço-me até dia 24 de Dezembro. Agasalhe-se bem. Gosto muito de si.

Beijinhos
Madalena

P.S. – Se me trouxesse um cãozinho também era bom mas não quero abusar.”

De seguida, colocou a carta num envelope e endereçou-o ao Reino do Pai Natal na Lapónia. Antes da mãe a deixar na porta da escola, pediu-lhe que enviasse a sua carta. A mãe concordou, sorrindo.

A mãe da criança guardou a carta até à hora do almoço. Sempre estimulara a que a filha acreditasse na magia do Natal principalmente desde que se separara já que os últimos tempos não tinham sido fáceis. Um divórcio, por mais amigável que fosse, era sempre complicado. Era preciso encontrar um novo equilíbrio, uma nova harmonia familiar e isso levava o seu tempo. Nada a preparara para o que descobriu na carta que Madalena escrevera ao Pai Natal. Não conseguiu conter as lágrimas quando percebeu que o Natal do ano anterior tinha sido uma época triste para a filha. Relembrou os alegres Natais antes do divórcio com toda a família reunida. O seu ex-cunhado vestia-se de Pai Natal e era uma alegria para as crianças. Madalena tinha razão. O Natal passado não tinha sido assim tão feliz e ela tinha chegado a discutir com o ex-marido porque não queria que a filha fosse passar o dia de Natal com a família dele já que era a sua semana de ficar com ela. Acabou por ceder mas mal tinha comido o delicioso polvo que a sua mãe fazia todos os Natais.

Perante aquela carta só havia uma atitude a tomar se queria que a filha continuasse a acreditar na magia do Natal. Percorreu a lista de contactos até encontrar o número familiar.

No dia 24 de Dezembro, Madalena estava em casa da avó Joana, mãe do seu pai. Ela e os primos armavam a maior confusão correndo pelo longo corredor. De vez em quando, espreitava a azáfama da cozinha onde a avó e os tios se atarefavam na cozinha. O pai não largava o telemóvel.

Perto da hora do jantar, tocaram à campainha. O pai pegou na mão da Madalena:
- Vem cá comigo abrir a porta. Chegou uma surpresa para ti.

Quando a porta se abriu, Madalena olhou perplexa para quem acabava de chegar.

Na soleira da porta estava a mãe, os avós Maria e João e a tia Sofia.
- Mas, mas… não percebo. O que estão aqui a fazer? – Madalena não sabia se havia de rir ou chorar de emoção. Estava tão contente que sentia que o seu coração ia rebentar de alegria.

Todos os adultos sorriam e tinham os olhos brilhantes como se tivessem lágrimas prestes a saltar.

As 2 famílias de Madalena voltaram a sentar-se à mesma mesa para celebrar o Natal e empenharam-se em viver aqueles momentos com serenidade e harmonia.
Madalena não parava de sorrir. Estava sentada entre a mãe e o pai. Apesar da sua tenra idade, compreendia a cedência que os seus pais tinham sido capazes de fazer para que ela tivesse o Natal que sonhara.

Levantou-se e segredou ao ouvido do tio:
- Sabes, tio Zé, hoje não precisas de te vestir de Pai Natal. Eu já recebi o melhor presente.

Ao longe ouviu-se um latido. Parecia um cachorrinho.》

 

P.S. - Quando vi este post, fiquei com a ideia de te que, no ano passado, tinha escrito um conto de natal. Só que não o encontrava em lado nenhum. Nem na lista da Isabel nem no meu blogue. Achei que tinha pensado em escrever mas que não o tinha chegado a fazer. Qual não foi a minha surpresa quando encontrei o início desta história perdido no meu arquivo. Foi só acabar de escrevê-la. Afinal, esta história continuou a existir num canto escondido da minha cabeça e do meu tablet .

 

Desafio de escrita dos Pássaros tema #15

Alerta, alerta, o Pai Natal reformou-se

Charneca em flor, 20.12.19


Alerta CM: O Pai Natal decidiu reformar-se. O Natal de milhões de crianças pode estar comprometido. Falta pouco mais de uma semana para a véspera de Natal. Quem é que irá distribuir os presentes?


Rudolfo, a rena, carregou no comando da televisão para mudar o canal. O nariz estava ainda mais vermelho e reluzente, tal era a raiva.
- Como é que aqueles fulanos conseguiram descobrir a reforma do Pai Natal. Tudo se fez para encobrir o acontecido. Só pode ter sido aquele Nicolau a divulgar a notícia. Adora aparecer. – bufou Rodolfo. – Deixa cá ver se o anúncio já tem muitas respostas.


Anúncio: Procura-se profissional qualificado para tarefa delicada. Qualificações mínimas requeridas: Carta de condução de veículos de tracção animal. O candidato deve gostar de crianças, ter bom coração e acreditar na magia do Natal. Disponibilidade imediata. Os interessados devem enviar um email para info.laponia@gmail.com e dirigir-se ao escritório do Pai Natal na Lapónia.


- Ó, meu rico São Nicolau. Tantas respostas. Acho que vou ter uma tarefa bem difícil pela frente.
Enquanto isso, no escritório do Pai Natal, os candidatos amontoavam-se à entrada dificultando a entrada da rena Rudolfo.
- Com licença. Têm que me deixar passar para podermos começar com as entrevistas. Não há tempo a perder.
Os aspirantes a Pai Natal abriram alas para o entrevistador passar. O recrutamento ia iniciar-se, finalmente.
Rudolfo entrevistou dezenas de candidatos enfadonhos que não traziam nada de novo à função. Já que era para mudar que fosse para um Pai Natal ainda mais especial que o anterior. Até que entrou uma pessoa bem diferente na sala. Rudolfo olhou estupefacto para quem estava à sua frente. Em vez de um velho barrigudo de barbas brancas, Rudolfo olhava para uma quarentona bem conservada e cheia de curvas.
- A senhora deve estar enganada. Eu procuro um Pai Natal. A senhora é uma mulher e isso desqualifica-a para a função. Lamento que tenha perdido o seu tempo, senhora…
- Charneca em Flor. Não há nenhum engano. O Sr. Rudolfo já ouviu falar em paridade? Os homens e as mulheres têm direito a oportunidades iguais. Já está na altura de ser uma Mãe Natal a distribuir os presentes às crianças.
- Paridade? Ideia interessante. Fale-me mais de si. Se calhar, a ideia de uma Mãe Natal não é assim tão disparatada.
E foi assim que a Charneca em Flor conseguiu ser escolhida para Mãe Natal.

 

Para ler mais textos deste desafio é só passar por aqui.

Feliz Natal