"Debaixo de Algum Céu", Nuno Camarneiro
No passado mês de Agosto bati o meu recorde de livros lidos num mês. No total, foram 6 livros embora, para ser mais exacta, a leitura de "Debaixo de Algum Céu" começou em Julho mas foi terminada nos primeiros dias das minhas férias. Ao que parece, ontem assinalava-se o Dia Internacional de ler um ebook e lembrei de que ainda não tinha partilhado a minha opinião sobre esta obra, que li na versão ebook.
Nunca tinha lido nada de Nuno Camarneiro embora tivesse ouvido falar nele na altura em que lhe foi atribuído o Prémio Leya 2012 por este livro.
A história passa-se nos dias que vão desde o Natal até ao Ano Novo e, maioritariamente, circunscritos a um prédio construído junto ao mar. Nesse prédio vivem as personagens, de várias idades e circunstâncias.Homens e mulheres, novos e velhos, crianças, idosos, jovens adultos e adolescentes.
Nuno Camarneiro leva-nos a espreitar pela janela e a descobrir a vida destas pessoas, os seus anseios, sonhos e problemas. Estas histórias podiam ser o relato da vida de qualquer um de nós ou de quem vive ao nosso lado. A maioria de nós vive em prédios, com toda a certeza. Às vezes nem conhecemos quem vive ali tão perto, não sabemos se sofrem ou precisam de ajuda. E foi nisso que as palavras de Nuno Camarneiro me fizeram pensar.
O autor leva-nos a mergulhar, não na água do mar que se avista das janelas, mas nas vidas daquelas pessoas e a acompanha-las ao longo daqueles dias entre o ano que finda e o ano que começa. Sempre senti esses dias com alguma estranheza porque sempre me pareceu que já não pertencem ao ano que termina mas também ainda não pertencem ao novo ano. Também gostei muito de Nuno Camarneiro me levar a espreitar pela janela daquelas pessoas, eu que adoro espreitar, discretamente, pelas janelas sem cortinas. Não porque seja coscuvilheira mas por pura curiosidade pela maneira como as outras pessoas vivem.
Gostei muito deste livro. Nuno Camarneiro parece ser um grande observador de pessoas e um profundo conhecedor da natureza humana. O livro está muito bem escrito e é pontuado por frases sublimes. Só tive pena de não ter lido esta obra há mais tempo e fiquei interessada em ler mais obras dele. Infelizmente não são muitas.
"Uma história são pessoas num lugar por algum tempo. As margens da página, como o silêncio, estabelecem limites certos para que um conto não se confunda com o que não lhe pertence. Pode contar-se uma história enchendo uma caixa vazia ou desenhando paredes à volta da gente.
(...)
O medo nasce em qualquer lugar, como erva daninha por dentro. O medo suporta tudo e cresce no escuro até ser adulto, até ser do tamanho de um homem, e lhe tomar o corpo e pensar por ele."