Natal em tempo de pandemia
A noite começava a cair e as luzes coloridas alegravam as ruas. As poucas pessoas que se viam seguiam atarefadas procurando chegar a casa o mais depressa possível para se reunirem com as suas famílias na noite mais mágica do ano, a Véspera de Natal. Quem andava por ali seguia tão absorto com os seus problemas que nem reparava num homem jovem que percorria as ruas desesperadamente.
José procurava uma farmácia aberta mas, todas as que encontrava, já tinham encerrado para que os seus funcionários celebrassem o Natal. Aquele dia preparava-se para ser um dos dias mais importantes para ele e para a sua família. No entanto, o eminente acontecimento estava a ser ensombrado pelas regras que a terrível pandemia tinha imposto no país.
Já tinham passado quase dois anos desde que se descobrira uma doença de tal modo contagiosa que se tinha espalhado por todos os países do Mundo provocando uma pandemia. Cada país tinha lutado o melhor que podia contra as consequências desta ocorrência mas tinha sido impossível impedir que aquela doença afectasse os cuidados de saúde, a economia, os negócios, a vida em comunidade, a maneira como as pessoas se relacionavam umas com as outras ou usufruíam dos direitos outrora conquistados.
O governo do país de José tinha decretado que, para aceder aos espaços públicos, todos os cidadãos teriam que apresentar um teste negativo para a doença. Só que o homem não conseguia encontrar nenhum sítio disposto a realizar o dito procedimento o que o estava a afastar do lugar onde ele desejava estar, acima de tudo e de todos, ao lado da mulher da sua vida. Eles estavam prestes a conhecer a felicidade mais plena mas nunca tinham imaginado que não estivessem juntos naquele momento.
Quando estava prestes a desistir, viu uma luz a piscar. Por momentos, pensou que era a estrela que os Reis Magos viram, a Oriente, no primeiro Natal mas tratava-se de uma cruz verde que assinalava a farmácia de serviço. Apesar de iluminado, não se via vivalma no interior do espaço. De repente, a porta automática abriu-se assustando o pobre José. Com a esperança de encontrar ali a solução para o seu problema, entrou. Enquanto explicava a situação à simpática farmacêutica que lá se encontrava, viu surgir um ser etéreo vestido de bata azul, máscara e viseira. Para ele, aquela pessoa transformou-se no seu anjo da guarda porque lhe fez o tão aguardado teste, felizmente, negativo.
Assim que pôde saiu a correr a tal velocidade que parecia voar em direcção ao carro enquanto telefonava à sua amada:
- Maria, meu amor, consegui. Vou a caminho do hospital. Diz ao nosso filho que espere mais um pouco para nascer.
Algumas horas depois, Maria e José recebiam, nos braços, o filho tão desejado. Porque não há tempestade ou pandemia que seja capaz de afastar aqueles que se amam.
Feliz Natal
Este conto de Natal foi escrito para responder ao desafio lançado pela querida imsilva do blogue pessoas e coisas da vida.
Serve também de homenagem todos os profissionais de saúde, onde me incluo, que continuam, dia após dia, a desempenhar o seu papel no combate à pandemia. Que tenham todos um Santo e Feliz Natal.
P.S. - Foto captada no Mercadito de Trento, Itália, no Natal de 2016.