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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

O Rapaz Selvagem, Paolo Cognetti

Charneca em flor, 16.02.21

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O primeiro livro que li deste autor italiano foi "As Oito Montanhas" que muito apreciei. "O Rapaz Selvagem" foi publicado alguns anos antes daquele e também tem a montanha como pano de fundo. Desta feita trata-se um romance autobiográfico. A determinada altura da vida, por volta dos 30 anos, Paolo atravessa um Inverno difícil na cidade sentindo-se desmotivado e sem capacidade para escrever. Até aos 20 anos, o escritor passava todos os verões na montanha sentindo-se verdadeiramente livre. Durante os meses que vivia na cidade, obedecia às regras da cidade mas quando chegava à montanha tornava-se num rapaz selvagem.

"Eram todas liberdades que eu também apreciava, tanto explorá-las a fundo me parecia importante aos vinte anos, porém, com trinta anos já quase havia esquecido a sensação de estar sozinho num bosque, de me banhar nu num ribeiro ou de correr ao longo de um cume, acima do qual existe somente céu."

Depois daquele Inverno complicado, Paolo resolve voltar à montanha para "reencontrar uma antiga e profunda parte que sentia que tinha perdido"

Assim isola-se numa cabana nos Alpes, munido de livros e cadernos, para se reencontrar com o rapaz selvagem que fora e, quiça, voltar a escrever. Durante os primeiros tempos, a sua companhia limita-se às àrvores e aos animais da montanha, lebres, camurças, raposas ou cervos. e a própria montanha com as suas particularidades, mas, progressivamente, acaba por procurar companhia humana, "Não era grande coisa como eremita: tinha ido para a montanha para estar sozinho e, ao invés, não fazia outra coisa senão criar amizades."

Como eu não estou isolada do mundo, li este livro no contexto actual que vivemos. Devido à pandemia há quem esteja em isolamento por estar doente, ou por ter tido contacto com doentes, há idosos que não saem de casa há semanas ou meses e há quem cumpra, criteriosamente, o confinamento decretado pelo estado de emergência actual. Embora eu já tenha dito que não me custa estar em casa, consigo compreender que há pessoas, de todas as idades, que sofrem com a falta de interacção com os outros. Há quem tenha dificuldade em conviver consigo próprio. No entanto, é preciso vivermos bem connosco próprios para podermos viver bem com os outros.

Voltando ao livro "O Rapaz Selvagem", acho que a experiência de Paolo provou que o humano, por mais que seja capaz de viver isolado na natureza, é um ser iminantemente social. Só descobrimos o nosso eu verdadeiro nestas duas dimensões, sozinhos e em sociedade.

"O Rapaz Selvagem" é um livro pequeno, na versão ebook tem apenas 100 páginas, lê-se muito bem porque Paolo Cognetti escreve muito bem. Esta obra, para além de nos guiar na viagem ao interior do escritor, ainda tem a vantagem de nos  levar a descobrir os caminhos mais complexos dos Alpes.

"Continuei a subir: já ninguém me conseguia parar. Estava já na crist entre os dois vales da minha vida, caminhava sobre placas de pedras fendidas pelo gelo e sobre aquele musgo muito macio que cresce a três mil metros de altura. De um lado da vertente, o da idade adulta, o céu estava limpo e de um azul tão intenso que parecia ter massa e volume. Do lado da infância, elevavam-se salpicos de nuvens que se encaracolavam e dissolviam aos meus pés. Do lado de lá passara vinte anos da minha vida, do lado de cá, os últimos meses: estava feliz por serem lugares distintos, mas próximos."

 

 

 

Lotaria Literária #99

Charneca em flor, 08.04.20

"Então a vista alargou-se sobre a outra vertente do Grenon, o seu lado exposto ao sol: sob os meus pés, depois de uma faixa rochosa, um longo prado descia docemente até um grupo de cabanas e um pasto onde se espalhavam vacas."

As oito montanhas

Paolo Cognetti

Dom Quixote

ISBN 978-972-20-6222-0

Itália é um dos meus países preferidos. Já muito feliz por lá. Têm-se vivido dias difíceis nesse belo país que esperemos que não se repitam por cá.

Li este livro há poucos meses. Já o tinha comprado há algum tempo mas há sempre aquele dia certo para pegar num livro, não é? 

 

Paolo Cognetti, "As oito montanhas"

Charneca em flor, 16.09.19

As-Oito-Montanhas.jpgNão me lembro quando é que comprei este livro. Possivelmente foi depois de alguma das minhas viagens à Itália, para matar saudades da cultura italiana. Neste romance há 3 personagens principais, no meu entender, Pietro, Bruno e a montanha. A acção desenrola-se desde a infância dos 2 homens, passando pela adolescência e até à vida adulta. Conhecem-se numa aldeia, no sopé do Monte Rosa, nos Alpes. Pietro vive com os pais em Milão. Os pais têm, ambos, paixão pela montanha que foi onde se conheceram e alugam uma casa na aldeia de Grana para passarem o Verão. E é assim que Pietro e Bruno se conhecem. Juntos exploram a montanha, ao longo dos vários verões que Pietro passa na aldeia e constroem uma relação fraternal, entre eles e com a montanha, que se estenderá pela vida fora, apesar de alguns anos de afastamento.

O próprio autor tem uma relação privilegiada com a montanha já se divide entre a cidade e uma casa a 2000 metros de altitude.

O livro "As oito montanhas" é uma obra bela e encantadora que não se consegue parar de ler. A linguagem, apesar de ser em prosa, é poética, de uma certa forma. As descrições de Paolo Cognetti transportam-nos para a montanha e sentimo-nos  também nós, a subir à montanha. Se te sentes fascinado pela imensidão, pela dureza, pela resistência da montanha e acreditas no poder da amizade, este é o livro indicado para ti.

"Talvez fosse verdade, como afirmava a minha mãe, que cada um de nós tem uma cota predileta na montanha, uma paisagem que lhe agrada mais e onde se sente bem. A sua era o bosque dos 1500 metros, de abetos e larícios, à sombra dos quais crescem o mirtilo, o zimbro e o rododendro e se escondem os cabritos-monteses. Eu era mais atraído pela montanha que vem a seguir: pradaria alpina, torrentes, turfeiras, ervas de altitude, animais no pasto. Mais acima a vegetação desaparece, a neve cobre tudo até ao começo do verão e a cor prevalecente é o cinzento da rocha, com veios de quartzo e tendo incrustado o amarelo dos líquenes. Ali começava o mundo do meu pai."