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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Desafio Arte e Inspiração V2.0, semana #1

Persistência da Memória

Charneca em flor, 14.09.22

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Persistência da Memória, Salvador Dalí

 

 

Tique, taque, tique, taque
Eterno movimento marcando o tempo
Como do coração, o batimento
Tempo, o que é isso?
Dias, horas, minutos, segundos?
Ou é algo mais, será o tempo?
A memória de momentos felizes
Persiste mais do que, apenas, um dia.
Igualmente, um dia trágico
Por mais que o tentemos
Apagar, ele persiste para sempre.
Quanto tempo me falta, ainda, viver?
Será suficiente para tudo o que quero fazer?
Livros por ler, sítios para conhecer,
Pessoas para amar, perdão para pedir
Tanto por realizar antes de desaparecer
Pouco faltará para o mundo acabar
Envolto numa nuvem de fogo ardente
Memórias perdidas naquele mar
E a Terra transfigurada neste cenário demente.

 

Poema escrito no âmbito do Desafio de escrita Desafio de Escrita Desafio Arte e Inspiração V2.0 lançado pela querida e inexcedível Fátima Bento e no qual participam, para além da Fátima e desta que vos escreve, os seguintes brilhantes autores:

 Ana D.Ana de DeusAna Mestrebii yue, Bruno EverdosaCéliaCristina AveiroImsilva

Restantes participantes mencionados no post seguinte.

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Florbela Espanca

Charneca em flor, 21.03.21

Quem fez ao sapo o leito carmesim
De rosas desfolhadas à noitinha?
E quem vestiu de monja a andorinha,
E perfumou as sombras do jardim?

Quem cinzelou estrelas no jasmim?
Quem deu esses cabelos de rainha
Ao girassol? Quem fez o mar? E a minha
Alma a sangrar-se? Quem me criou a mim?

Quem fez os homens e deu vida aos lobos?
Santa Teresa em míticos arroubos?
Ou monstros? E os profetas? E o luar?

Quem nos deu asas para andar de rastros?
Quem nos deu olhos para ver os astros
- Sem nos dar braços para os alcançar?

Florbela Espanca, Charneca em Flor

 

Neste Dia Mundial da Poesia podia escolher muitos outros poemas, alguns mais contemporâneos, mas Florbela Espanca é, para mim, sempre novidade.

Hoje e sempre, leiam poesia. A prosa fala ao coração mas a poesia enriquece a alma.

E não sobrou ninguém, Martin Niemöller

Charneca em flor, 08.02.21

primeiro levaram os comunistas

mas não me importei com isso

eu não era comunista;

em seguida levaram os sociais-democratas

mas não me importei com isso

eu também não era social-democrata;

depois levaram os judeus

mas como eu não era judeu

não me importei com isso;

depois levaram os sindicalistas

mas não me importei com isso

porque eu não era sindicalista;

depois levaram os católicos

mas como não era católico

também não me importei;

agora estão me levando

mas já é tarde

não há ninguém para

se importar com isso. 

 

Foi este poema que serviu de inspiraçãoà música que partilhei esta manhã.

Florbela Espanca

8 de Dezembro de 1894 - 8 de Dezembro de 1930

Charneca em flor, 08.12.20

Hoje passam 90 anos sobre o dia que Florbela Espanca escolheu para  morrer, no dia em que fazia 36 anos. Uma alma perturbada mas que foi capaz de elaborar os mais belos poemas. Aqui fica aquele ao qual fui roubar o meu nome virtual.

Charneca em Flor

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu bruel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Parabéns, Sérgio Godinho

Charneca em flor, 31.08.20

Sérgio Godinho é mais conhecido como músico mas, se prestarmos atenção às suas letras, descobrimos poemas fantásticos. Para assinalar o seu 75° aniversário, partilho aqui a letra da sua mais recente canção.

Este "O novo normal" é tristemente actual

No novo normal
Há cidades inteiras
Por onde rasgaram
Invisíveis poeiras
Malignas benignas
Ninguém sabe se sabe
Nem que acaso ou que destino nos cabe
O novo normal
É terreno minado
De acasos
No novo normal
Caem corpos à sorte
Em valas comuns
Num silêncio de morte
Cortado somente
Por soluços distantes
Longe vão os tempos de ser como dantes
No novo normal
Nunca nada vai ser
Nunca igual

Dadas as circunstâncias
Mantenha as distâncias
Respeite os espaços
Controle essas ânsias
De beijos e abraços
Refreie as audácias e as inobservâncias

Escolha bem as audácias
Refreie essas ânsias
De beijos e abraços
Dadas as circunstâncias
Respeite os espaços

No novo normal
Nunca são contas feitas
Acordaste informado
E ignorante te deitas
E amanhã pela manhã
Será que algo mudou
(tudo) não passou de um pesadelo fugaz
Uma história do medo
Largada ao ouvido
Em segredo

No novo normal
Há grandes filas de fome
Nomes tão desgastados
Até deixar de ter nome
Até que o medo não tenha
Racionais fundamentos
E seja só um buraco negro no céu
Um horizonte de eventos
Memorial do que
Se viveu

Dadas as circunstâncias
Mantenha as distâncias
Respeite os espaços
Controle essas ânsias
De beijos e abraços
Refreie as audácias e as inobservâncias

Escolha bem as audácias
Refreie essas ânsias
De beijos e abraços
Dadas as circunstâncias
Respeite os espaços

Lotaria Literária #122

Charneca em flor, 01.05.20

"Deram-me uma caneta para escrever

mas eu já escrevia antes da caneta

que diferença faz esta outra?"

Poema Deram-me uma caneta para escrever

A M Duarte

Detesto ter palavras e não saber o que fazer com elas

Emporium Editora

ISBN 978-989-9001-49-7

 

Nunca tinha ouvido falar neste autor. Comprei este livro para rentabilizar a compra do livro da lotaria de ontem. Escolhi este livro porque achei o título muito curioso. Para além disso, conheço bem a zona de onde o autor é originário.

 

Lotaria Literária #120

Charneca em flor, 29.04.20

"Foi de repente

eu semi-reflectida por janela oval;

uma emoção que me lembrou o diariamente 

em que disseste inteiro o nome do lugar onde vivíamos 

sem lhe trocar as letras de lugar"

Do poema Comuns formas ovais e de alforria ou outra (quase) carta a minha filha

Ana Luísa Amaral

Os melhores poemas portugueses dos últimos cem anos

Companhia das Letras

ISBN 978-989-6652-30-2

 

A brincar, a brincar já passou 1/3 do ano de 2020. Estranho, não é?