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Livros de Cabeceira e outras histórias

Todas as formas de cultura são fontes de felicidade!

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Vertigem, Salvador Sobral e Agir

Charneca em flor, 04.04.22

Salvador Sobral continua a reinventar-se a cada dia que passa e surpreender, provando que é um artista multifacetado. De um encontro à mesa com Agir, através amigos comuns, nasceu esta "Vertigem". Os dois artistas, que nada parecem ter em comum à primeira vista, provam que a música é uma linguagem universal seja qual fôr a roupagem. Não é pelo uso de ferramentas digitais que deixa de ser uma grande música ilustrada por um brilhante vídeo. Espero que esta não seja uma colaboração única.

Uma experiência interessante.

Boa semana.

Sempre vens assim, Magali Sare e Salvador Sobral

Charneca em flor, 21.02.22

Hoje partilho uma música muito alegre. No Youtube, esta canção é descrita assim:

"Esta canção é uma particular homenagem que Magalí Sare faz a Portugal e também às grandes festas, de que sentimos tanta falta nestes tempos de pandemia. A letra é uma colagem de pedaços de diferentes Quadras (breves poemas de quatro versos) de Fernando Pessoa. Toda a música é da autoria de Magalí Sare excepto um interlúdio que foi criado a partir da melodia de Glosa, que se canta em Manacor (cidade muito querida para a cantora) durante as festas de Sant Antoni, festividade que, casualmente, a localidade maiorquina partilha com Lisboa."

Em primeiro lugar, acho admirável que as palavras de Fernando Pessoa continuem a soar novas e frescas.

Em segundo lugar, fico muito feliz que uma jovem catalã se tenha encantado com o poeta português quando haverá inúmeros portugueses que nunca leram Fernando Pessoa.

Em terceiro lugar, as vozes maravilhosas de Magali Sare, Salvador Sobral e companhia enchem o coração e dão-nos vontade de dançar.

Espero que gostem.

Boa semana.

 

 

Sangue do meu sangue, Salvador Sobral

Charneca em flor, 29.03.21

Ao fazer a revisão das músicas lançadas na semana que passou, é impossível deixar passar a nova música de Salvador Sobral.

"Sangue do meu sangue" é o primeiro single do álbum "bpm" que será lançado a 28 de Maio. "bpm" significa "batimentos por minuto". Provavelmente a sua experiência clínica* continua a influenciar a sua criatividade. Aliás, Salvador Sobral explicou assim o nome do álbum, “Tomo várias decisões nas diferentes áreas da vida durante as minhas insónias. Chamo-lhes IPs (insónias produtivas). O nome do álbum é fruto de uma IP. Numa reflexão sobre a música e a vida, chego à conclusão de que o elemento mais forte que as une são os bpm (batimentos por minuto)”

Neste disco Salvador Sobral assina grande parte das composições com o músico e produtor venezuelano Leonardo Aldrey. Anteriormente, o artista assumia-se, principalmente, como intérprete mas, a julgar por esta primeira música, o seu talento também se estende à composição. Esta música é maravilhosa em todos os aspectos. Se prestarmos bem atenção, compreendemos a profundidade da dor, pelo sonho de vida que não se concretizará, que esta canção nos transmite. A mim já me conquistou.

No silêncio desta sala
Está o meu segredo
Cedo à tentação
De o guardar mais um momento

Porque enquanto o segredo fica
É como se não fosse
Como se não fosse
Embora a culpa insista
Persiste e a força é de guardar

A teu lado medito
Na melhor forma de dizer
Que os frutos do nosso amor
Não se podem colher

Mas não está certo
Não podia acontecer
Estávamos tão perto
Chegar à praia p'ra morrer

Triste e estranha sensação
Um homem sem função
Sem continuação
Sangue do meu sangue

Não te julgarei, querida
Se o teu coração
Ao amanhecer
Se encolher ao me ver

Vais partir em busca da vida
Destruído sorrirei
Na hora da despedida
Destruído
Destruído sorrirei

 

Boa semana

 

*Salvador Sobral sofreu de um problema cardíaco muito grave pelo qual teve que fazer um transplante cardíaco.

 

 

Uma citação por semana #21

Charneca em flor, 21.05.18

We pass and dream. Earth smiles. Virtue is rare.

Age, duty, gods weigh on our conscious bliss.

Hope for the best and for the worst prepare.

The sum of purposed wisdom speaks in this.

                                                    Alexander Search, heterónimo inglês de Fernando Pessoa

Um dos poemas que descobri graças a este projecto musical

A day of sun by Alexander Search

Charneca em flor, 17.06.17

 

Alexander Search é uma banda de língua inglesa que cresceu na África do Sul, mas que está radicada na Europa, mais concretamente Portugal, "paraíso à beira mar plantado" como dizia o seu maior poeta, Fernando Pessoa. A sua música mistura influências da indie-pop, música electrónica e rock. As letras foram escritas maioritariamente por Alexander Search, membro da banda que morreu tragicamente ainda jovem, mas que granjeia o respeito e admiração dos seus pares como "the greatest conquerer of the beauty of words", o maior conquistador da beleza das palavras.

Augustus Search é o compositor de serviço da banda, toca piano e sintetizadores e faz a direcção musical. Benjamin Cymbra é um cantor extraordinário e traz na sua voz a garra rock n'roll do passado e as angústias e esperanças do presente. O futuro "é a possibilidade de tudo", dizia também Pessoa.

Sgt. William Byng comanda a vertente computacional e electrónica. Marvel K. tem uma guitarrada cortante e espacial. E Mr. Tagus, ex-baterista de jazz, ainda tem na música e 'groove' de África uma das suas maiores riquezas.

Alexander Search é uma banda que gosta de ousar, impaciente, à procura, sempre à procura, da quintessência. Nunca o conseguiu. Este é o disco de mais uma tentativa falhada.

 

É com estas palavras que Júlio Resende e companhia definem o seu novo projecto. Alexander Search é um dos heterónimos ingleses de Fernando Pessoa. Júlio Resende musicou esses poemas e convidou Salvador Sobral para os cantar assim como outros músicos para os acompanharem. Cada um deles criou também um heterónimo à semelhança do inspirador Fernando Pessoa. 

"A day of sun" é o primeiro single deste trabalho e é, sem dúvida, o poema indicado para o dia de hoje, um excelente dia de sol.

 

DAY OF SUN

 

I love the things that children love

        Yet with a comprehension deep

That lifts my pining soul above

        Those in which life as yet doth sleep.

 

All things that simple are and bright,

        Unnoticed unto keen‑worn wit,

With a child's natural delight

        That makes me proudly weep at it.

 

I love the sun with personal glee,

        The air as if I could embrace

Its wideness with my soul and be

        A drunkard by expense of gaze.

 

I love the heavens with a joy

        That makes me wonder at my soul,

It is a pleasure nought can cloy,

        A thrilling I cannot control.

 

So stretched out here let me lie

        Before the sun that soaks me up,

And let me gloriously die

        Drinking too deep of living's cup;

 

Be swallowed of the sun and spread

        Over the infinite expanse,

Dissolved, like a drop of dew dead

        Lost in a super‑normal trance;

 

Lost in impersonal consciousness

        And mingling in all life become

A selfless part of Force and Stress

        And have a universal home;

 

And in a strange way undefined

Lose in the one and living Whole

The limit that I call my mind,

The bounded thing I call my soul.

17-3-1908